O bairro de Boquisso, situado no município da Matola, província de Maputo, foi recentemente palco de uma tragédia que mergulhou toda a comunidade em luto. Duas crianças, pertencentes à mesma família, perderam a vida de forma trágica após se afogarem numa escavação de areeiro abandonada, que se encheu de água devido às recentes chuvas.
As vítimas eram menores de idade, com idades compreendidas entre os 7 e os 10 anos. Os dois meninos eram primos e costumavam brincar juntos sempre que as responsabilidades escolares e familiares lhes permitiam. Naquele fatídico dia, como de costume, saíram de casa durante o período da tarde, informando que iriam até à zona de areeiro, onde era comum as crianças da vizinhança se reunirem para brincar.
Infelizmente, o local onde decidiram se divertir acabou se transformando no cenário do último capítulo de suas curtas vidas. A escavação em questão, que outrora servira como fonte de extração de areia, foi deixada aberta e sem qualquer sinalização ou barreira de proteção. Com as fortes chuvas que têm assolado a região, o buraco acumulou grande quantidade de água, criando uma espécie de lago artificial — aparentemente atrativo, mas extremamente perigoso.
Relatos de vizinhos indicam que as crianças costumavam frequentar o local, principalmente nos dias mais quentes. O que parecia ser um espaço de recreação natural escondia armadilhas fatais. Segundo testemunhas, uma das crianças terá escorregado e caído na água. Ao ver o primo em apuros, a outra tentou socorrê-lo, mas acabou sendo também engolida pelas águas profundas e turvas.
A ausência prolongada dos menores levantou preocupação entre os familiares, que iniciaram uma busca desesperada. Após algumas horas, os corpos foram encontrados submersos no areeiro, por moradores locais que se mobilizaram quando já era tarde demais. O choque tomou conta da vizinhança.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) e os bombeiros foram chamados ao local para resgatar os corpos e abrir uma investigação preliminar. As autoridades confirmaram que o espaço onde o incidente ocorreu não possui nenhuma estrutura de segurança, nem placas de advertência — uma negligência que poderá custar mais vidas, se medidas urgentes não forem tomadas.
O ambiente na residência dos menores é de dor e desespero. Familiares, amigos e vizinhos compareceram em massa para prestar solidariedade à família enlutada. A mãe de um dos meninos não conteve as lágrimas ao descrever o filho como “um anjo cheio de vida que partiu cedo demais”. Já o pai do outro menor apelou às autoridades para responsabilizarem os donos do areeiro e exigiu o encerramento imediato de escavações abandonadas.
O administrador local prometeu averiguar o caso e reunir-se com os operadores dos areeiros para discutir medidas de prevenção. “Precisamos garantir que situações como estas não se repitam. É inadmissível que crianças continuem a morrer em locais que deviam estar devidamente selados e sinalizados”, afirmou em pronunciamento público.
Este não é um caso isolado. Tragédias semelhantes já foram registadas noutras zonas do país, onde a exploração desenfreada de recursos naturais deixa marcas permanentes no tecido social. A falta de fiscalização e de políticas claras de reabilitação ambiental após a exploração tem contribuído para a proliferação de buracos abertos, alguns com profundidades superiores a cinco metros.
Muitos desses areeiros, ao invés de serem vedados após o término das actividades, são deixados ao abandono, acabando por se transformar em armadilhas mortais, especialmente para crianças. As chuvas, comuns nesta época do ano, apenas agravam o risco.
A sociedade civil e organizações comunitárias têm vindo a pressionar as autoridades locais e o governo central a intervir com maior firmeza na regulação destas actividades. Para elas, não basta punir os responsáveis após tragédias consumadas — é necessário atuar preventivamente.
Enquanto isso, o bairro de Boquisso chora a perda de duas das suas crianças. Pequenos que deveriam estar agora a sonhar, a estudar, a brincar. Em vez disso, foram enterrados juntos num funeral marcado pela dor, pela revolta e por perguntas sem respostas.
A morte desses menores serve como um apelo urgente por mudanças estruturais. É preciso proteger a infância, garantir que espaços de risco sejam devidamente vedados e monitorados. Caso contrário, o luto continuará a visitar lares inocentes por erros evitáveis.
Que a memória dessas crianças se transforme num símbolo de alerta e num impulso para a ação concreta. Que a sua perda não seja em vão.
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