Todas actividades que envolviam dinheiro no MISAU estão canceladas, visto que quem financiava eram projectos financiados pela USAID. Agora enfermeiro vai trabalhar tipo professor

 


Grande parte das ações que envolviam movimentação de fundos estava a ser sustentada por projetos apoiados pela USAID.
Com a retirada desse financiamento, muitas iniciativas foram abruptamente canceladas.
O impacto dessa decisão começa a ser sentido em todos os cantos do sistema nacional de saúde.
Desde formações, campanhas de prevenção, até pagamentos de ajudas de custo, tudo foi afetado.

Entre os mais prejudicados estão os profissionais de saúde, especialmente os enfermeiros.
Estes, que já enfrentavam desafios diários, agora veem-se numa situação ainda mais delicada.
Sem incentivos e sem subsídios complementares, muitos terão de continuar a exercer as suas funções apenas com o salário-base.
A realidade passa a se assemelhar à dos professores, também sobrecarregados e mal remunerados.

A expressão "agora o enfermeiro vai trabalhar como professor" virou quase um bordão entre os profissionais.
Isso reflete não só o descontentamento da classe, mas também o reconhecimento do esforço não recompensado.
As condições de trabalho continuam precárias, e a motivação tende a cair ainda mais.
Mas mesmo nesse cenário sombrio, alguns ainda encontram formas de sobreviver.

Na prática, muitos apontam que a suspensão dos apoios não significa o fim de todas as “oportunidades”.
Afinal, quem procura assistência nas maternidades sabe: não se entra lá sem pelo menos 400 meticais.
É um valor que, embora não esteja escrito em tabela alguma, tornou-se quase regra em muitos estabelecimentos.
Algumas pessoas chamam isso de "contribuição informal", outros chamam pelo nome real: corrupção silenciosa.

A situação torna-se ainda mais crítica quando se fala de medicamentos.
As farmácias públicas estão com os estoques baixos ou inexistentes.
Os pacientes, muitas vezes, saem das consultas com receitas impossíveis de cumprir.
A única alternativa acaba sendo recorrer às farmácias privadas.

E aí, quem não tiver meios, terá de se contentar com paliativos ou esperar pela sorte.
Nas farmácias privadas mais conhecidas, como a Singular, os preços são proibitivos para a maioria.
Remédios que deveriam estar disponíveis nos centros de saúde são vendidos a preços fora da realidade.
Quem quer o "bom medicamento", precisa ter bolso forte.

A crise financeira no setor da saúde não é novidade, mas agora ganha contornos mais agudos.
Sem o financiamento da USAID, as brechas do sistema tornam-se ainda mais visíveis.
A fragilidade da estrutura estatal fica exposta, e os cidadãos comuns pagam a conta.
Infelizmente, os mais pobres são sempre os mais afetados.

Enquanto isso, o silêncio das autoridades preocupa.
Poucas explicações têm sido dadas de forma clara à população.
Fala-se em “reestruturação”, em “processos internos”, mas nada de concreto é apresentado.
A confiança do povo no sistema público de saúde está a esgotar-se rapidamente.

Por outro lado, os trabalhadores da saúde, verdadeiros heróis em tempos difíceis, sentem-se abandonados.
Estão a exercer as suas funções sem os meios adequados, sem motivação e sem garantias.
A promessa de uma saúde gratuita e de qualidade vai ficando cada vez mais distante.
O sistema está à beira do colapso, e não há sinais de que a situação vá melhorar a curto prazo.

Com todas essas limitações, há um crescente sentimento de injustiça entre os utentes.
Pagar por um serviço público virou rotina, mesmo quando a Constituição garante o acesso universal à saúde.
A informalidade se normalizou, e o sofrimento da população torna-se uma estatística invisível.
As mães continuam a dar à luz em ambientes sem condições mínimas, pagando “taxas” que ninguém regulamentou.

A juventude, os idosos, os doentes crónicos – todos estão à mercê de um sistema que já não responde.
Profissionais tentam manter a dignidade e salvar vidas, mesmo sem os recursos necessários.
E enquanto a ajuda externa não regressa ou o governo não apresenta alternativas viáveis, o povo continua a sofrer.
O enfermeiro, agora como o professor, terá de continuar a resistir, muitas vezes com as mãos vazias.

Que futuro se pode esperar de um país onde a saúde depende da caridade internacional?
Quantas vidas ainda serão sacrificadas por decisões políticas e administrativas?
A pergunta que ecoa entre corredores de hospitais e postos de saúde é simples: até quando?
Até quando vamos continuar a fingir que tudo está sob controle, quando na verdade já não está?

Neste cenário de incertezas, resta apenas a esperança.
Esperança de que a solidariedade internacional se renove.
Esperança de que o governo reaja.
Esperança de que os profissionais não abandonem as suas vocações.

Mas a esperança, por si só, não enche prateleiras de medicamentos.
Nem garante partos seguros.
Nem impede mortes evitáveis.
O povo precisa de ação – e com urgência.


Se quiser que eu formate o texto como notícia, crônica ou discurso, posso adaptar também.

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