Ossufo Nômade caíu de paraquedas pra Presidência da RENAMO. Esse é um dos Homens mais confiado pelo Afonso e e André Matsangaíssa.

 



A trajetória de Ossufo Momade rumo à presidência da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) surpreendeu a muitos, tanto dentro como fora do partido. Para alguns, sua chegada ao mais alto posto da organização política foi como um salto de paraquedas. No entanto, a história do líder revela uma conexão profunda com as raízes e os ideais que fundaram a RENAMO.

Nascido na Ilha de Moçambique, província de Nampula, Ossufo Momade cresceu num ambiente de fortes tensões políticas e sociais. Sua juventude foi marcada pelos conflitos que se seguiam à independência do país, momento em que diversos grupos procuravam afirmar-se como alternativa ao partido único dominante, a FRELIMO.

Foi neste contexto que ele se juntou às fileiras da RENAMO, movimento inicialmente militar criado por forças externas, mas que logo passou a refletir uma oposição interna com crescente base popular. Momade não era um rosto qualquer. Foi um combatente, estratega e fiel seguidor da linha ideológica da organização, tendo servido por longos anos como comandante militar nas matas de Moçambique.

Mesmo quando não ocupava cargos de grande visibilidade política, Ossufo era uma das figuras mais respeitadas pelos guerrilheiros e quadros médios do movimento. Sua lealdade e firmeza ideológica tornaram-no uma referência dentro da RENAMO. Não era raro ouvir veteranos do movimento mencionarem o seu nome como símbolo de disciplina, integridade e compromisso com os princípios fundadores do partido.

A confiança nele depositada por figuras históricas como Afonso Dhlakama, o eterno líder da RENAMO, e André Matsangaíssa, o fundador da organização, não era fruto do acaso. Ambos reconheciam em Ossufo uma postura discreta, mas firme. Ao longo dos anos, ele demonstrou ser um homem de palavra, ponderado, mas também capaz de tomar decisões difíceis em momentos cruciais.

Com o falecimento inesperado de Afonso Dhlakama em 2018, a RENAMO enfrentou um dos seus maiores dilemas: a sucessão da liderança. O vácuo deixado por Dhlakama foi profundo. Era necessário escolher alguém que, além de conhecer profundamente os meandros do partido, tivesse legitimidade histórica e capacidade de unir as diversas alas internas.

Foi assim que Ossufo Momade, até então coordenador interino da RENAMO, acabou sendo eleito presidente no congresso realizado em 2019. Muitos viram sua ascensão como repentina, quase como se tivesse “caído de paraquedas”. Mas, na verdade, a sua nomeação foi o culminar de décadas de dedicação silenciosa ao partido.

Durante o período de transição, Momade procurou manter o partido unido, conduzindo a RENAMO através de um processo delicado de desmilitarização e reintegração dos antigos guerrilheiros à vida civil, no âmbito do Acordo de Paz assinado com o governo moçambicano. Este processo foi um dos maiores testes à sua liderança, exigindo equilíbrio entre os compromissos políticos e as expectativas dos seus seguidores históricos.

Ainda assim, sua liderança enfrentou desafios internos. Algumas alas do partido questionaram seu estilo de liderança, mais diplomático e distante das estratégias militares que tradicionalmente caracterizavam a RENAMO. Surgiram dissidências, como a autoproclamada Junta Militar, liderada por Mariano Nhongo, que contestava a sua autoridade.

Mesmo diante dessas pressões, Momade optou por manter uma postura de diálogo, evitando o confronto direto e apostando na consolidação da paz como trunfo político. Ele acreditava que a RENAMO poderia continuar relevante dentro das instituições democráticas, participando dos processos eleitorais e legislativos como força política legítima.

Para além da política partidária, Ossufo Momade também teve de lidar com o desafio de reinventar a imagem da RENAMO perante a opinião pública nacional e internacional. Era necessário demonstrar que o partido estava comprometido com a paz, a reconciliação e o desenvolvimento do país.

Sua liderança, embora contestada por alguns setores, representou uma viragem na estratégia da RENAMO. O partido passou a investir mais em estruturas civis e menos em mobilização armada, consolidando-se como alternativa política, sobretudo nas províncias do centro e norte do país, onde mantém uma forte base de apoio.

Apesar das dificuldades, Momade conseguiu preservar o legado de Dhlakama e de Matsangaíssa, adaptando-o aos novos tempos. A confiança que lhe foi depositada por esses dois ícones da história da RENAMO revelou-se profética: Ossufo soube, a seu modo, manter viva a chama do partido.

Hoje, quando se analisa sua ascensão à liderança, percebe-se que, longe de ter sido um salto fortuito, a sua eleição foi resultado de uma longa trajetória de sacrifícios, serviços e fidelidade à causa. Foi esta consistência que conquistou a confiança dos veteranos e a aceitação dos mais jovens.

A história de Ossufo Momade dentro da RENAMO é, portanto, uma narrativa de continuidade e transformação. Um homem que passou da selva à tribuna, das armas à política, sem perder de vista os princípios que nortearam os fundadores do movimento.

É essa trajetória que o coloca como uma figura central na política moçambicana contemporânea. Ossufo é o elo entre o passado insurgente e o futuro democrático do partido. Um líder que não se impôs pela força, mas sim pela constância e pelo respeito conquistado ao longo do tempo.

Mesmo entre os críticos, há quem reconheça que sua presença evitou o colapso da RENAMO após a morte de Dhlakama. Sua calma e sua forma de liderança contribuíram para estabilizar o partido em momentos de profunda incerteza.

Ossufo Momade pode não ser um orador carismático ou uma figura midiática, mas é um homem de bastidores, de estratégia e de lealdade. E foi essa combinação que o levou ao topo da RENAMO, com o respaldo de duas das figuras mais influentes da sua história: Afonso Dhlakama e André Matsangaíssa.

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