Mano Shottas, recordado pela sua coragem, irreverência e incansável ativismo nas redes sociais e fora delas, perdeu a vida de forma trágica, vítima da brutalidade policial que marcou um dos capítulos mais sombrios da repressão durante as manifestações populares. A sua morte, brutal e prematura, deixou uma ferida aberta na memória coletiva daqueles que ousam enfrentar o sistema e denunciar abusos, corrupção e violações dos direitos fundamentais.
O prémio foi entregue à sua esposa, em nome da memória do ativista, num ato solene que decorreu perante um público composto por defensores dos direitos humanos, académicos, jovens ativistas e representantes da sociedade civil. A entrega foi feita pelo conceituado professor e defensor dos direitos humanos, Dr. Adriano Novunga, uma das figuras mais respeitadas no país no que diz respeito à luta por justiça social.
Durante a cerimónia, o Dr. Novunga destacou que o Voice of the Voiceless Award não é apenas uma distinção simbólica, mas um grito coletivo de reconhecimento àqueles que tiveram a coragem de falar em nome dos marginalizados, dos perseguidos, dos silenciados. “Este prémio representa a luta contínua daqueles que pagaram com a vida o preço da verdade. Mano Shottas foi uma dessas vozes — incômoda para uns, inspiradora para muitos”, sublinhou Novunga.
A esposa do homenageado, visivelmente emocionada, recebeu o troféu entre lágrimas e aplausos, agradecendo pela homenagem e afirmando que a memória do seu marido continuará viva através da luta por justiça, igualdade e liberdade de expressão. “Ele não morreu em vão. Cada palavra que escreveu, cada vídeo que publicou, cada protesto em que participou foi em nome de um país mais justo. O legado dele é agora de todos nós”, declarou.
A cerimónia foi também marcada por momentos culturais, com música, poesia e intervenções artísticas que prestaram tributo ao blogueiro assassinado. Jovens artistas recitaram versos inspirados na resistência, e amigos de Mano Shottas partilharam testemunhos comoventes sobre a sua bravura, humildade e compromisso inabalável com a verdade.
É importante recordar que Mano Shottas era mais do que um simples utilizador de redes sociais. Ele foi uma voz crítica, um cronista dos acontecimentos que os grandes meios de comunicação muitas vezes ignoravam. Denunciava abusos da polícia, expunha falhas do sistema e mobilizava jovens a pensarem criticamente sobre o rumo do país. E por isso, foi silenciado.
A repressão que ceifou a sua vida foi também denunciada durante a cerimónia, com oradores a exigirem que as autoridades sejam responsabilizadas por atos de violência contra manifestantes pacíficos. “A justiça por Mano Shottas é também justiça por todos os outros que foram calados por exercerem o direito à liberdade de expressão”, frisou um dos intervenientes.
O prémio Voice of the Voiceless é internacionalmente reconhecido como um símbolo de resistência em contextos de opressão. Atribuído a figuras que ousaram erguer-se em nome daqueles que não podem falar, a distinção já foi conferida a jornalistas perseguidos, defensores dos direitos humanos encarcerados e ativistas assassinados por regimes autoritários.
Neste ano, Moçambique inscreve-se nesse quadro doloroso de países onde a liberdade de expressão continua a ser posta à prova. A homenagem a Mano Shottas é, portanto, também um alerta à comunidade internacional sobre os riscos enfrentados por quem denuncia a verdade.
O evento contou ainda com uma exposição fotográfica que percorreu os momentos mais marcantes do ativismo de Mano Shottas — desde as suas publicações virais até às marchas onde liderava multidões. Muitos dos presentes puderam rever nesses registos a intensidade do seu compromisso, o sorriso que nunca perdia, mesmo diante do perigo.
No final da cerimónia, foi feito um apelo para que a sua memória não seja esquecida. Uma campanha nacional pela justiça em casos de violência policial foi lançada em sua honra, com o objetivo de pressionar as autoridades a investigarem com seriedade todas as mortes ocorridas durante manifestações, incluindo a de Mano Shottas.
A premiação encerrou com um momento de silêncio, seguido do som simbólico de tambores, representando a batida do coração de todos aqueles que continuam a lutar por um país onde ninguém mais tenha de morrer por dizer a verdade.
Mano Shottas partiu, mas a sua voz continua a ecoar. Ele é agora símbolo de resistência. Um mártir da liberdade. Um verdadeiro “voz dos sem voz”.
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