Era um domingo como tantos outros, aparentemente calmo, com o céu limpo e o sol pairando timidamente sobre o horizonte. O relógio marcava pouco depois das dez da manhã quando, entre despedidas apressadas e abraços com gosto de saudade, o avião começou a movimentar-se na pista do aeroporto internacional. Poucos minutos depois, ganhava os céus, deixando para trás uma cidade que ainda acordava.



Mas, para muitos que estavam lá naquele momento, aquela decolagem carregava algo muito maior do que o simples ato de voar. Era uma partida com gosto agridoce. Para uns, significava o início de uma nova etapa da vida, longe de casa, em busca de oportunidades. Para outros, representava uma despedida dolorosa, o adeus a alguém querido, sem garantias de reencontro próximo.

Entre os passageiros, havia silêncio e expectativa. Rostos colados às janelas observavam o solo a afastar-se. Lá embaixo, familiares agitavam os braços, chorando discretamente ou simplesmente ficando paralisados, sem saber como lidar com a ausência que acabava de começar.

Na sala de embarque, havia quem ficasse. Um jovem, de olhos avermelhados, tentava esconder as lágrimas que insistiam em cair. Ele acabara de se despedir de sua mãe, que seguia para outro país, na esperança de uma vida melhor. “É só por um tempo”, ela lhe dissera, mas ele sabia que esse tempo poderia durar anos.

Perto dali, uma senhora idosa se sentava em silêncio. O neto, com quem vivera por quase uma década, partira naquele avião. Ela segurava firme um lenço de pano, como se fosse uma âncora para o coração que ameaçava naufragar. Ela não chorava, mas seu olhar, perdido no vazio, dizia tudo.

Na pista, o avião ganhava altitude, cortando o céu com precisão. Cada metro de distância percorrido era, para quem ficava, um corte emocional. Já para quem viajava, a mistura de emoções era difícil de descrever. Ansiedade, esperança, medo e até culpa conviviam no mesmo peito. Alguns olhavam o céu como se buscassem uma resposta. Outros mantinham o olhar baixo, absortos nos próprios pensamentos.

No interior da aeronave, o clima era de aparente normalidade. Os comissários de bordo realizavam os procedimentos padrão, oferecendo água, orientando passageiros, e tentando manter a tranquilidade. Mas não era um voo qualquer. Naquele domingo, o avião levava sonhos, memórias, promessas não cumpridas e despedidas não ditas. Era mais do que uma viagem — era um salto no desconhecido.

Em muitos lares, o telefone ainda estava quente com as últimas chamadas. "Já embarcaste?", perguntava uma voz trêmula do outro lado da linha. "Sim, mãe. Já estou no avião. Vai correr tudo bem, não te preocupes." Mas a mãe se preocupava. Sempre se preocuparia. Afinal, seu filho ia para longe. Para muito longe.

O domingo, que para outros era só mais um dia comum, para aqueles envolvidos naquele voo transformou-se num marco. Um ponto de virada. Aquele avião carregava mais do que passageiros. Levava histórias de vida, recomeços e também finais.

No Facebook, no WhatsApp, nas mensagens de texto, multiplicavam-se os posts e as reações: 😭🙆🏼‍♂️. Gente dizendo que não conseguia parar de chorar. Pessoas agradecendo a Deus pela oportunidade. Outras tentando disfarçar o sofrimento com palavras de força: “Vai dar tudo certo”. “Vai com Deus”. “Volta logo”.

Lá em cima, entre nuvens que pareciam algodão, os motores rugiam firmes. O destino era outro país, outro continente talvez. Uma realidade completamente diferente. Uma terra onde a língua era estranha, onde o clima não era o mesmo, onde ninguém te conhecia. Para quem partia, não havia garantias — só coragem.

A saudade já começava a bater antes mesmo do avião cruzar a fronteira. Uns choravam baixinho, enquanto outros apenas cerravam os olhos, fingindo dormir, para evitar que a emoção transbordasse. A viagem apenas começava, mas dentro de cada coração, uma tempestade já estava em andamento.

Do lado de cá, os que ficaram olhavam o céu como se quisessem ver o avião ainda, mesmo quando ele já estava longe. Alguns permaneciam por horas no aeroporto, como se se recusassem a aceitar o fim daquele momento. Outros seguiam para casa em silêncio, com os olhos fixos no vazio do horizonte.

Assim foi o domingo. Um dia de partida, de despedida, de emoções à flor da pele. Um dia em que um simples voo se tornou símbolo de tudo aquilo que é difícil de dizer com palavras: amor, dor, esperança, coragem, sacrifício.

E aquele avião, que decolou como tantos outros, ficará na memória de muitos como o voo que levou um pedaço do coração de quem ficou em terra 


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